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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Minha tia portuguesa.

Há pessoas que entram e saem de nossas vidas,
meio sorrateiras e quando percebemos,elas ou
se instalaram ou saíram de "mansinho"...
E quando damos por isto,percebemos mais tarde
a "conexão"
ou o silencioso
desligamento dela...

Quando cá cheguei,bem no inicio da década de 90,
tive o prazer de conhecer uma pessoa fabulosa em
todos os sentidos...

Do alto de uma escadaria velha de madeira,de um prédio
quase que centenário,lá estava ela no cimo do quinto andar,
a estender roupas e a sorrir para mim e para Marcinha.

Ela se tornou ao longo de quase duas décadas,a minha adorável
tia Lourdes...
Bom,creio que tenho o direito e permissão dela,em escrever.lhe
o nome completo e aí vai"sem nenhuma censura:"
Maria de Lourdes Alves de Melo Abreu Soares.
Nascida no Porto,ser portuguesa era seu orgulho,com todos"os fados"
que a vida lhe reservou,mas ela tinha no sangue o "swing" e o calor dos trópicos,misturando sambas,maracatús,frêvos e fados...

É estranho,mas tia Lourdes sabia dar um "colorido especial"a estas misturas...

Fiz questão de escrever.lhe o nome completo,pois ela orgulhava.se muito
dele...

Tive momentos fantásticos em companhia desta minha tia...
Bem longe de minha família,das pessoas que amo,ela foi para
mim a família e uma vez que ela também era só,tive a honra de
ser um dos seus queridos sobrinhos...

A história da vida dela,dava um filme,que eu certamente iria sempre
rever...
Não quero entrar em maiores detalhes,sobre sua vida,pois ainda não me
sinto seguro,se tenho o direito de descrevê.lo...

Lembro-me,muito dela nestas épocas natalinas,que quando estávamos juntos,
ela chorava pelos parentes ausentes,mas sempre ao final de nossas lembranças,
estávamos os dois a rir as gargalhadas das boas recordações...

Para alguém nascido na segunda década do século passado,ela era alguém
imprevisivel,tanto para o bem,tanto para o mal,mas os seus actos de bondade
em relação ao próximo,ultrapassava todos os seus defeitos...

Parece ficção,mas ela conheceu o 1º marido(O Sr.Alberto)em um"esbarrão"
em plena Lisboa,e mal se conheceram,começaram a namorar e logo casaram.se
e foram viver para África.
Retornaram de África,separaram.se alguns anos depois,mas sempre foram amigos
um do outro,sem cobranças...
Aos 48 anos,ela apaixonou-se outra vez e casou.se com seu colega de trabalho,que conhecera em um dos inúmeros cruzeiros em que trabalhou...
Pois ela era telefonista,de um dos grandes navios de cruzeiro português,
e ele era um "bar-man..."

Detalhe:O "Zézinho"como ela carinhosamente o chamava,era vinte anos mais novo que ela...
Mas segundo consta,ele a amava e ela idem...

Mais uma vez,ela ficou sozinha,pois ele não resistiu aos problemas de
saúde,que adquiriu ao passar dos anos...

Tenho excelentes recordações dela,mesmo em momentos tristes para ambos...
Ela com sua sabedoria,sabia tirar partido positivo,de situações que julgaríamos impossível...

Bonita,no auge dos seus quase noventa anos,cabelos brancos,pele clara
e olhos castanhos claros,com traços de índia,pois sua mãe,dona Cristina,era natural do nosso Ceará e era mestiça índia...
Tia Lourdes,foi uma grande força em meu inicio de vida aqui...
E o que ela me ensinou,é que temos que fazer o bem,seja a quem vier a nossa frente...

Infelizmente,tia Lourdes se foi,em uma fase que eu tentava recuperar de uma grande perda e quando fui procura.la,ela já lá não estava,naquele quinto andar daquele prédio da rua Boa-Vista...
Estive lá depois,em uma noite a subir aquelas velhas escadarias de madeira...
Parei no escuro,ante aquela porta,pela qual várias vezes ultrapassei...Mas já não tinha a chave e não podia lá entrar e motivos maiores,já não existiam...
Senti emoções diversas e depois de um longo silêncio,saí sorrateiramente,
com o sentimento que tinha dado a ela,o meu último adeus:
A minha grande amiga e tia querida...

Um comentário:

Iaiah disse...

Linda homenagem! Sua "adorável tia Lourdes" estaria sorrindo feliz e teria orgulho em ouvir tantas coisas lindas assim de seu sobrinho querido. Não sei ha quanto tempo isso se passou mas com certeza essas lembranças vão lhe dar forças até o fim da sua jornada aqui. Termina uma fase de nossa vida e em seguida já outra se inicia...diferente mas importante, pois estamos sempre a subir escadas, sempre a sorrir ou chorar, sempre entrando e saindo da vida de algumas pessoas tao queridas, mas o importante eh que mesmo sem as chaves, podemos entrar e sair daqueles lugares que foram para nós um precioso abrigo, mesmo que apenas em nossos sonhos e pensamentos.